A ferro e fogo
Ele chegava e sempre sussurava as palavras que ela queria ouvir. Ele sabia que por detrás daquele muro, de aparente inflexibilidade, se escondia um imenso jardim cuja razão de ser era somente Ele...
Ele usava das palavras, como um dom, e dizia-lhe coisas que a faziam feliz, coisas que ela queria ouvir... Ele sabia que, com essas brandas palavras, a ensandecia e lhe turvava a mente, mas não deixava de o fazer... Ela sentia-se grande, gigante, uma espécie de divindade.
Ele usava das palavras, como um dom, e dizia-lhe coisas que a faziam feliz, coisas que ela queria ouvir... Ele sabia que, com essas brandas palavras, a ensandecia e lhe turvava a mente, mas não deixava de o fazer... Ela sentia-se grande, gigante, uma espécie de divindade.
Ele desaparecia. Ela esperava. Ele regressava. Ela lá estava pronta a recebê-lo e às suas palavras...
Contudo, um dia ela percebeu nas palavras o engano. Afinal não era ele o tal "cavaleiro andante" que buscava incansavelmente. Quem era ele, que lhe roubava toda a clarividência? Porque ousára ele enebriá-la de forma tão impiedosa?
Não achou as respostas e, nos meandros do seu coração, apenas achou amor por ele.
Ela queria que o sentimento findasse, mas ele permanecia. Deitou raízes, apoderou-se de todo o seu Ser.
Ela sentia nada mais poder fazer. Ele agora era toda a razão da sua existência!
Ela tentou arrancá-lo de suas entranhas, mas ele fez do corpo dela a sua morada, da sua mente o seu refúgio.
Ela não era mais dona de si mesma. Era ele!
Ele que, um dia, veio apenas com palavras, com as palavras que ela gostava de ouvir, erigiu nela o seu castelo e habitou-a.
Ela queria pertencer-se, resgatar-se para si mesma, mas lutava contra a corrente. Ela remava para longe dele, mas ele alcançava-a. Ela dizia "adeus" mas nunca partia.
Um dia ele partiu. Deixou o que tomou dela.
Nela ficou o vazio e, no seu peito, o nome dele escrito
a ferro e fogo.