Monday, August 25, 2008

...

Não vou deixar de ser quem sou;
Não vou correr sem direcção;
Não vou fugir do meu destino:
Vou antes estender-lhe a mão...
Vou ignorar o que me dói;
Procurar o que me faz feliz...
Vou encontrar - no meu âmago - a paz
E lá firmarei raíz!
Vou perder-me no que me deleita,
Esquecer-me do que não me satisfaz...
Vou convencer-me:
Mereço muito mais!
Vou deixar de procurar respostas para
o que não tem explicação;
Vou lancetar-te, para sempre, das sombras
do meu coração...
Queiras fugir, não mais me importa...
Alguém que te alcance,
Alguém que te amanse...
Eu não quero mais essa missão...
Abraçei o mundo inteiro,
(Liberdade que me faz feliz),
Não és o único, nem o primeiro
nem tão pouco o que sempre quis!
Se te quedarás no teu mundo,
Se te esconderás no teu fundo,
Já não me importa...
Voltei costas a ti,
Adeus!
Estou fechando a porta...

Friday, August 22, 2008

Destruição

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.


Carlos Drummond de Andrade